POEMAS DE SANDRA ANDRADE

18/12/2011 12:05

 

AOS AMIGOS

 

 

Faz-se necessário

 

Guardar os amigos

 

Em jardins secretos

 

Onde há atalhos

 

Em prontidão, sempre precisos

 

Para considerações sobre o perdão,

 

A saudade, a mansidão e as gentilezas

 

De olhares e mãos!

 

Faz-se necessário aos amigos

 

Guardar bem o encantamento

 

Das palavras e sentimentos

 

Plenos de ternuras

 

Para seu uso na precisão

 

Em dias tristes

 

E em outros afetados

 

De dureza e solidão.

 

Hoje, faz-se necessário

 

Pensar os amigos

 

Que já não se repetem mais

 

Em nossas manhãs...

 

E celebrar com a sonoridade

 

das estrelas os que ainda estão

 

o em nossos caminhos!

 

 

Estremecimentos

 

Não é um poema novo

 

É o mesmo rufar de asas

 

Que estremece no poema antigo

 

Quando leio em teus olhos

 

Os versos alados que tecerias

 

Se pudesses falar de amores...

 

Não é um poema novo...

 

É o amor que se repete

 

Preciso como uma flecha

 

Que atravessa outra primavera inteira

 

Enquanto eu me debruço

 

Sobre canteiros de cadeínas

 

De onde brotam versos

 

Densos de estranhezas

 

Que só esse amor consente.

 

 

ONTEM

 

Ontem,

 

Depois de ti

 

Num céu de Maio

 

Enoitecido de saudades,

 

Uma lua quarto minguante

 

Lembrou-me:

 

_ Que você passou

 

E levou metade da minha luz!

 

 

Outra vez diante de ti

 

Outra vez de diante de ti,

 

Um esmaecimento me lembra

 

A alma e ao corpo

 

Que os deuses e oráculos

 

Foram precisos sobre meu asilo

 

Longe de ti...

 

Lá recolherei,

 

Junto com seu desafeto,

 

Ninhos, estrelas, raízes, casulos de hamadríades,

 

Sementes, luas azuis,

 

Canoridades de sabiás,

 

Avencas e jacarandás,

 

Algumas advertências dos astros sobre esse amor,

 

Malmequeres e bonsais de baobás!

 

O asilo deve-se a esse afrouxamento

 

Nas luzes da manhã,

 

Ressentida pela estrada de estrelas

 

Em que caminho quando estou ao lado teu!

 

 

Paisagem num Domingo com chuva

 

Domingo com chuva...

 

E a manhã caminha no dia

 

Sacudindo sobre ninhos e árvores

 

Asas molhadas e cantos de pássaros

 

Intensos de versos amanhecidos

 

De saudades tuas!

 

Domingo com chuva...

 

E nenhum rastro

 

de luz no dia

 

Só metáforas vazias

 

Onde não encontro

 

mais analogias para esse amor!

 

Domingo com chuva...

 

Caem as flores do meu jardim

 

Enquanto eu leio

 

Tristemente o outono em Baudelaire

 

E descubro então

 

Que posso esperar

 

Hoje, ainda, por uma tarde

 

Tingida de sol num horizonte,

 

Onde talvez, eu não veja

 

Mas que estão a cair

 

Sobre um mar longínquo,

 

Ou sobre um rio

 

As luzes dos teu olhar!

 

 

POSSIBILIDADE

 

À possibilidade

 

De um beijo teu,

 

O amor invoca

 

Druídas e oráculos,

 

Madrigais e metáforas,

 

Encantamentos e assentimentos

 

De todas as horas felizes

 

Que caminham no tempo!

 

Esse amor

 

Empresta da lua

 

Luzes para mover-se

 

Na escuridão da tua ausência.

 

Por isso, esse afrouxamento

 

Nas manhãs, quando a lua cheia

 

Ainda caminha

 

Arrematando uma noite

 

Em que eu sonhava contigo!