MACUNAÍMA DE MÁRIO DE ANDRADE

23/11/2011 22:41

Análise da obra

O romance Macunaíma (O herói sem nenhum caráter), de Mário de Andrade, foi editado em 1928, embora tenha sido escrito em quinze dias, no final de 1926, numa fazenda da família, em Araraquara, interior de São Paulo, para onde o escritor tinha ido passar uns dias. Levou consigo, naquela ocasião, os apontamentos de anos de trabalho e pesquisa sobre folclore brasileiro. Portanto, o folclore, nas suas múltiplas manifestações, vem a ser a trama de Macunaíma. Acumula um despropósito de lendas, superstições, frases feitas, provérbios e modismos de linguagem, tudo sistematizado e intencionalmente entretecido, “feito um quadro de triângulos coloridos em que os pedaços, aparentemente juntados ao acaso, delineiam em conjunto a paisagem do Brasil e a figura do brasileiro comum”, conforme assinala muito bem Cavalcanti Proença.

Mário de Andrade teve indecisões ao classificar o livro. Primeiramente, chamou-o “história” em um dos prefácios, querendo aproximá-lo dos contos populares pelo muito que, de comum, possui com esse gênero. Mas não era um título preciso e lembrou chamá-lo de “rapsódia”. De fato, apresenta como as rapsódias musicais uma variedade de motivos populares. Rapsódia é a maneira de cantar dos rapsodos gregos. São também rapsódias os antigos romances versificados e musicados, as canções de gesta de Rolando, a Encantada Branca-Flor e, nos nossos dias, as gestas de cangaceiros, entoadas nas feiras do Nordeste pelos cantadores. Daí a aproximação com as epopéias medievais.

Macunaíma é, sem dúvida, uma das expressões mais caracterizadoras do advento do Modernismo no Brasil. A fúria demolidora que caracterizou a primeira fase do nosso Modernismo (1922 – 1928) está aí em todos os sentidos: a estrutura do romance e a língua, principalmente, vem aí barbaramente violentadas na sua feição tradicional e acadêmica. Mas tentemos esboçar aqui o panorama cultural da época para que se entenda bem a literatura que vem expressa no texto genial de Macunaíma.

O livro é constituído pelo encontro de lendas indígenas (sobretudo as amazônicas, recolhidas e publicadas pelo etnólogo alemão Koch-Grünberg) e da vida brasileira cotidiana, da mistura de lendas e tradições populares. O espaço e o tempo são arbitrários, o fantástico assume um ar de coisa corriqueira e o lirismo da mitologia se funde a cada passo com a piada, a brincadeira, a malandragem nacional, que Macunaíma encarna (é o “herói sem nenhum caráter”).

A montagem do caráter de Macunaíma, síntese de um presumido modo de ser brasileiro, apóia-se na obra de Paulo Prado, Retrato do Brasil (1926), em uma tentativa de definição de um caráter nacional, que Paulo Prado descreve como luxurioso, ávido, preguiçoso e sonhador.

Há, também, a presença de Freud na abordagem psicanalítica dos mitos e dos costumes primitivos, que as teorias do inconsciente e da mentalidade pré-lógica propiciaram.

Espaço e tempo

As estripulias sucessivas de Macunaíma são vividas num espaço mágico, próprio da atmosfera fantástica e maravilhosa em que se desenvolve a narrativa. Macunaíma se aproxima da epopéia medieval, pois tem de comum com aqueles heróis a sobre-humanidade e o maravilhoso. Está fora do espaço e do tempo. Por esse motivo pode realizar aquelas fugas espetaculares e assombrosas em que, da capital de São Paulo foge para a Ponta do Calabouço, no Rio, e logo já está em Guarajá-Mirim, nas fronteiras de Mato Grosso e Amazonas para, em seguida, chupar manga-jasmim em Itamaracá de Pernambuco, tomar leite de vaca zebu em Barbacena, Minas Gerais, decifrar litóglifos na Serra do Espírito Santo e finalmente se esconder no oco de um formigueiro, na Ilha do Bananal, em Goiás.

Macunaíma é um personagem enquanto marginal, anti-herói, fora-da-lei, na medida em que se contrapõe a uma sociedade moderna, organizada em um sistema racional, frio e tecnológico. Assim, o tempo é totalmente subvertido na narrativa. O herói do presente entra em contato com figuras do passado, estabelecendo-se um curioso “diálogo com os mortos”: Macunaíma fala com João Ramalho (séc. XVI), com os holandeses (séc. XVII), com Hércules Florence (séc. XIX) e com Delmiro Gouveia (pioneiro da usina hidrelétrica de Paulo Afonso e industrial nordestino que criou a primeira fábrica nacional de linhas de costura).

Temas

Complexo racial – A confluência racial em Macunaíma se evidencia desde o primeiro capítulo. Basta ver que o her6i índio, nasce preto retinto: "No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma." (Mac. 9)

Note-se igualmente que quem avisa que o herói é muito inteligente é o próprio Rei Nagô, figura africana: "e numa pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente" (Mac. 10).

Mas onde esse complexo racial da nossa formação fica claro mesmo é na passagem do poço encantado em que Mário de Andrade reúne os três tipos fundamentais da formação da raça brasileira: o índio, o negro e o branco.

Apatia – A natureza apática do homem brasileiro, longe daquele dinamismo de que Mário de Andrade era dotado e queria no brasileiro, é mostrada já na primeira frase de Macunaíma que encarna as nossas virtudes e desvirtudes:

“- Ai! que preguiça!...”

A frase é repetida por todo o livro com o herói da nossa gente sempre a pronunciá-la nas dificuldades que encontra e que exigem um pouco de si.

Subdesenvolvimento - Em poucas palavras Macunaíma resumiu o subdesenvolvimento brasileiro: "pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são" que se tornou igualmente uma constante em todo o livro. É o que se pode ver no capítulo 8 ("Vei, a Sol") onde Mário de Andrade escreve:

"Nem bem Vei com as três filhas entraram no cerradão que Macularam ficou cheio de vontade de ir brincar com uma cunhã. Acendeu um cigarro e a vontade foi subindo. Lá por debaixo das árvores passavam muitas cunhas, cunhé se mexemexendo com talento e formosura.

– Pois que fogo devore tudo'. Macunaíma exclamou. Não sou frouxo agora pra mulher me fazer mal!"

Língua - Além desses aspectos de natureza social e étnica, destaca-se também em Macularam o problema da língua portuguesa no Brasil. Como vimos, o Modernismo fez uma verdadeira revolução na língua literária, dessacralizando-a da sua feição acadêmica e clássica. Os modernistas aproximam-na do povo, incorporando a ela os modismos brasileiros – É o português do jeito que o brasileiro fala.

Muiraquitá - A muiraquitã é um amuleto que se associa à vida primitiva de Macunaíma, antes do contato com a civilização. Pode-se dizer que a muiraquitã se associa à idéia de pureza e inocência. Com a perda do amuleto, Macunaíma vai-se civilizando e “sifilizando": contrai as doenças da civilização, conforme constata e registra na sua carta as icamiabas:

Inda tanto nos sobra, por este grandioso pais, de doenças e insectos por cuidar!... Tudo vai num descalabro sem comedimento, e estamos corro (dos pelo morbo e pelos miríapodes! (Mac. p. 105).

Como se viu, o herói recupera o amuleto sagrado, mas já não é o mesmo – estava inteiramente "sifilizado"...

Piaimã - O gigante Piaimã, por outro lado, representa bem o elemento estrangeiro, civilizado e superior, que vai dominando a pobre nação, subdesenvolvida e fraca. Somente com muita artimanha, o herói consegue enganá-lo e vencê-lo, na ficção de Mário de Andrade. Na realidade de hoje, a selva amazônica, reduto majestoso das icamiabas de Macunaíma, está à mercê do gigante Piaimã dos impérios internacionais que rondam gulosos à procura de um "pulmão". Mais do que nunca, precisamos, antropofagicamente, robustecer-nos com a força de I – Juca-Pirama ou, camaleonicamente, aprender as artimanhas de Macunaíma...

Foco narrativo e estrutura

Embora predomine o foco da 3ª pessoa, Mário de Andrade inova utilizando a técnica cinematográfica de cortes bruscos no discurso do narrador, interrompendo-o para dar vez à fala dos personagens, principalmente Macunaíma. Esta técnica imprime velocidade, simultaneidade e continuidade à narrativa. Exemplo:

“Lá chegado ajuntou os vizinhos, criados a patroa cunhãs datilógrafos estudantes empregados-públicos, muitos empregados-públicos! Todos esses vizinhos e contou pra eles que tinha ido caçar na feira do Arouche e matara dois…

— …mateiros, não eram viados mateiros, não, dois viados catingueiros que comi com os manos. Até vinha trazendo um naco pra vocês mas porém escorreguei na esquina, caí derrubei o embrulho e o cachorro comeu tudo.” (Cap. XI – A Velha Ceiuci)

A escritura de Macunaíma apóia-se no pensamento selvagem, na idéia de que tudo vira tudo, e na capacidade de compor e recompor configurações a partir de conteúdos díspares, esvaziados de suas primitivas funções. Daí a técnica caleidoscópica, em que as idéias e as imagens projetam-se arbitrariamente, inclusive nos modos de contar, nos estilos narrativos.

Alfredo Bosi destaca três estilos de narrar:

1. um estilo de lenda, épico-lírico, solene:

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamara de Macunaíma.

2. um estilo de crônica, cômico, despachado, solto:

Já na meninice fez coisas de sarapantar De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam afalar~ exclamava:

ai! que preguiça!...

E não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. (...)

Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem.

Então adormecia sonhando palavras feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.

3. um estilo de paródia, retomando, satiricamente, a linguagem empolada e pedante dos parnasianos e dos cultores de Rui Barbosa e Coelho Neto. É o que se vê na Carta pras Icamiabas, que o herói escreve no capítulo em IX, focalizando a duplicidade no uso de nossa língua.

(...) Mas cair-nos-iam as faces, si ocultássemos no silêncio, uma a curiosidade original deste povo. Ora sabereis que à sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra. (...) Nas conversas, utilizam-se os paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na vernaculidade, mas que não deixa de ter seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas vozes do brincar Destas e daquelas nos inteiramos, solícito; e nos será grata empresa vô-las ensinarmos aí chegado. Mas si tal desprezível língua se utilizam na conversação da pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula. língua de Camões! (...)

Estruturalmente, o livro está dividido em 17 capítulos.

Personagens

Macunaíma - Macunaíma é individualista. Faz o que deseja e o que gosta sem preocupações sociais. E vaidoso, necessita de espectadores e fica satisfeitíssimo quando faz o discurso no Ipiranga “muito gangento” mesmo. Sente vontade de chorar, mas não vale a pena, pois está sozinho e não há assistentes. Fisicamente, tem cabeça rombuda e cara infantil — “carinha enjoativa de piá” — e, em pequeno, mostra o defeito dos subnutridos, nos quais a ossificação é imperfeita, pois tem as “perninhas em arco".

Mente com a maior naturalidade; trai seus irmãos, tomando-lhes as mulheres; pratica safadezas gratuitas ou intencionais; joga no bicho; fala os piores palavrões; é católico e espírita, mas não dispensa o terreiro de macumba, nos grandes aflitivos. Vive deitado na rede “fumando fava de paricá”, para espantar os mosquitos e ter sonhos alegres e gostosos. Pensa encontrar uma panela com dinheiro enterrado.

Assim é a figura do grande Macunaíma, “herói de nossa gente”. Herói de uma tribo amazônica, que o autor misturou a outros, também indígenas, e reinventou como personagem picaresca, sem cortar suas ligações com o mundo lendário. Depois da morte da mulher (Ci, Mãe do Mato, que se transforma na estrela Beta do Centauro), Macunaíma perde um amuleto que ela lhe dera, a muiraquitã. Sabendo que está nas mãos de um mascate peruano, Venceslau Pietra, morador em São Paulo, Macunaíma vem para esta cidade com os dois irmãos, Maanape e Jiguê. A maior parte da trama se passa durante as tentativas de reaver a pedra do comerciante, que era, afinal de contas, o gigante Piaimã, comedor de gente. Conseguindo o propósito, Macunaíma volta para o Amazonas, onde após uma série de aventuras finais, transforma-se na constelação Ursa Maior.

A muiraquitã é o próprio ideal de Macunaíma. E o presente do único amor puro de sua vida, o que lhe deu um filho, o menino morto anjinho. Para reconquistá-la, empreende viagens, lutando e sofrendo, até que, de posse do talismã, regressa à vida sem maldade dos primeiros tempos.

A tentação do sexo, a que não soube resistir, faz com que perca novamente a muiraquitã. Então desanima. Sem o talismã, que, no fundo, é o seu próprio ideal, o móvel de todas as suas aventuras, o herói reconhece a inutilidade de uma agitação sem persistência ao seu objetivo. A cabeça cortada, como na lenda caxinauá, resolve ser lua por vingança. Não queria transformar-se em nada que servisse aos homens, por isso vai parar no campo vasto do céu, sem dar calor nem vida. Inútil. Macunaíma vai ter brilho inútil, porque ele próprio se julga inútil, desencantado com o inventário que fez de toda a sua vida passada. Continuaria a brilhar, embora sem finalidade nem seriedade, nessa vocação para o brilho puro, sem calor, que Mário de Andrade censurou tantas vezes nos artistas brasileiros. Não é imoral. Pertence àquela classe de “seres nem culpados nem inocentes, nem alegres nem tristes, mas dotados daquela soberba indiferença que Platão ligava à sabedoria”.

Maanape - mano de Macunaíma que o acompanha na sua peregrinação em demanda da Muiraquitã. Tinha fama de feiticeiro o que demonstra em diversas passagens do livro. Por falta de sorte, foi o último a lavar no poço encantado que "era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indaiada brasileira". Quando foi se lavar também na água do poço encantado "tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas." (Mac. 48) Representa o elemento negro do complexo racial brasileiro.

Jiguê - É o outro mano de Macunaíma que o ajudou a reconquistar a muiraquitã perdida. Vendo que Macunaíma ficara branco, atirou-se também nas águas do poço encantado: "Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados, só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:

"– Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz" (Mac. 48).

Representa o elemento indígena da nossa formação racial.

Sofará - cunhada de Macunaíma, "companheira de Jiguê", com quem Macunaíma "brincou" diversas vezes, transformando-se em príncipe.

Iriqui - segunda mulher de Jiguê, com quem Macunaíma também "brincou" muitas vezes. Depois foi dada a Macunaíma, de presente, porque Jiguê achou que não valia a pena brigar por causa de uma mulher.

Ci - foi o grande e único amor de Macunaíma. Ao tomá-la como companheira, passou a ser imperador do Mato Virgem, sendo acompanhado de um séquito de papagaios e araras. Com o herói teve um filho que morreu. Ela também morreu, transformando-se na "Beta do Centauro", onde vive "liberta das formigas, toda enfeitada de luz", Foi ela quem deu a Muiraquitã a Macunaíma. "Ci" quer dizer "mãe" – "Mãe do Mato".

Capei - era a cobra boiúna (cobra grande) que Macunaíma, dando uma de herói, matou para salvar Naipi, amada de Titçatê. A cabeça, cortada pelo herói, tornou-se lua – "Boiúna-Luna": "Dantes Capei foi a boiúna mas agora é a cabeça da Lua lá no campo vasto do céu."

Piaimã - é o gigante comedor de gente, Venceslau Pietro Pietra, que roubara a muiraquitã de Macunaíma. De posse deste famoso amuleto vai constituir-se na principal oposição da reconquista pelo herói. Macunaíma quase foi comido pelo gigante, mas, graças à formiga Cambgique e ao Carrapato Zlezlegue, é salvo. Depois, para se vingar, dá uma tremenda surra no gigante através da macumba de Exu. No final, o herói o mata e readquire o seu talismã. O gigante Piaimã é uma das poucas personagens do livro que não vira estrela. Talvez por representar a maldade e a oposição na conquista da Muiraquitã.

Vei - É o sol ou, como quer Mário de Andrade, a sol, que tem duas filhas e quer o herói para genro. Porém Macunaíma é mesmo impossível e não dá certo.

Pauí-Pódole - é o pai do mutum, origem da ave mutum, cracídeo. Torna-se depois no Cruzeiro do Sul que é para os índios um enorme mutum "no campo vasto do céu". Por causa dele Macunaíma armou o maior rolo com "o maior mulato da mulataria do Brasil."

Ceiuci: - velha gulosa, mulher do gigante Piaimã, que também comia gente. Uma vez tarrafiou o herói e só não o comeu porque a filha dela o salvou. É também a caapora, duende maligno e malvado.

Oibê - é um "minhocão, variante da cobra-grande amazônica", que dá uma tremenda canseira no herói porque este Ihe comera a pacuera (fressura de animal).

Enredo

Macunaíma, índio tapanhuma, era o filho mais novo de uma família (a mãe e os irmãos Maanape e Jiguê) que vivia nas margens do rio Uraricoera, na Amazônia. Preguiçoso, manhoso, matreiro e mentiroso, desde pequeno não deixa de arranjar encrenca com os irmãos, principalmente com Jiguê, de quem sempre levava as esposas para "brincar". Com a morte da mãe, os irmãos resolvem sair pelo mundo, que sempre se mostra mágico e cheio de personagens míticos.

Macunaíma encontra Ci, a mãe do mato, e a toma como esposa, tornando-se o Imperador do Mato Virgem. Depois de perderem um filho, Ci morre e lhe dá uma pedra verde que serve de amuleto: o muiraquitã. Num confronto entre os irmãos e um monstro chamado de Boiúna Capei (que logo se torna a rechonchuda lua), Macunaíma perde o seu amuleto. Sabe, por intermédio de um pássaro, que a tal pedra foi engolida por uma tartaruga tracajá na praia do rio. Segundo o pássaro, um homem pegou o bicho e encontrou o amuleto, vendendo-o a um mascate peruano que mora na cidade de São Paulo, de nome Venceslau Pietro Pietra.

Os três irmãos vão até São Paulo resgatar a pedra e descobrem que o mascate peruano é, na verdade, o gigante Piaimã, comedor de gente. Seguem-se várias aventuras entre eles, sendo que dessas aventuras, contadas como se fossem lendas, nascem várias tradições e costumes do povo brasileiro, como o jogo de truco e a festa do Bumba-meu-boi. Por fim, trava-se o confronto final entre Macunaíma e Venceslau Pietro Pietra: a casa deste possuía um cipó que ficava logo acima de uma grande panela de macarronada fervendo. Persuadindo as pessoas a se balançar, o gigante Piaimã conseguia derrubar sua vítima e obter comida. Macunaíma, no entanto, emprega a mesma técnica contra ele, matando-o na panela e recuperando o amuleto.

De volta à Amazônia com os irmãos, Macunaíma recebe da deusa-sol, Vei, suas duas filhas. Envolve-se, no entanto, com uma portuguesa, o que causa insatisfação em Vei. Esta, por vingança, atrai Macunaíma até um lago onde uma moça de nome Uiara o seduz. O índio acaba por se entregar aos desejos da moça do lago e tem os membros de seu corpo comidos pelos peixes. Recupera a todos, menos a perna e o amuleto muiraquitã, engolidos pelo monstro Ururau.

Desgostoso da vida, sem o amuleto e sem os irmãos (transformados, numa das peripécias, na sombra leprosa e segunda cabeça do pai do urubu), vai até o feiticeiro Piauí-Pódole, que o transforma na constelação de Ursa Maior.