POEMAS DE SANDRA ANDRADE
AOS AMIGOS
Faz-se necessário
Guardar os amigos
Em jardins secretos
Onde há atalhos
Em prontidão, sempre precisos
Para considerações sobre o perdão,
A saudade, a mansidão e as gentilezas
De olhares e mãos!
Faz-se necessário aos amigos
Guardar bem o encantamento
Das palavras e sentimentos
Plenos de ternuras
Para seu uso na precisão
Em dias tristes
E em outros afetados
De dureza e solidão.
Hoje, faz-se necessário
Pensar os amigos
Que já não se repetem mais
Em nossas manhãs...
E celebrar com a sonoridade
das estrelas os que ainda estão
o em nossos caminhos!
Estremecimentos
Não é um poema novo
É o mesmo rufar de asas
Que estremece no poema antigo
Quando leio em teus olhos
Os versos alados que tecerias
Se pudesses falar de amores...
Não é um poema novo...
É o amor que se repete
Preciso como uma flecha
Que atravessa outra primavera inteira
Enquanto eu me debruço
Sobre canteiros de cadeínas
De onde brotam versos
Densos de estranhezas
Que só esse amor consente.
ONTEM
Ontem,
Depois de ti
Num céu de Maio
Enoitecido de saudades,
Uma lua quarto minguante
Lembrou-me:
_ Que você passou
E levou metade da minha luz!
Outra vez diante de ti
Outra vez de diante de ti,
Um esmaecimento me lembra
A alma e ao corpo
Que os deuses e oráculos
Foram precisos sobre meu asilo
Longe de ti...
Lá recolherei,
Junto com seu desafeto,
Ninhos, estrelas, raízes, casulos de hamadríades,
Sementes, luas azuis,
Canoridades de sabiás,
Avencas e jacarandás,
Algumas advertências dos astros sobre esse amor,
Malmequeres e bonsais de baobás!
O asilo deve-se a esse afrouxamento
Nas luzes da manhã,
Ressentida pela estrada de estrelas
Em que caminho quando estou ao lado teu!
Paisagem num Domingo com chuva
Domingo com chuva...
E a manhã caminha no dia
Sacudindo sobre ninhos e árvores
Asas molhadas e cantos de pássaros
Intensos de versos amanhecidos
De saudades tuas!
Domingo com chuva...
E nenhum rastro
de luz no dia
Só metáforas vazias
Onde não encontro
mais analogias para esse amor!
Domingo com chuva...
Caem as flores do meu jardim
Enquanto eu leio
Tristemente o outono em Baudelaire
E descubro então
Que posso esperar
Hoje, ainda, por uma tarde
Tingida de sol num horizonte,
Onde talvez, eu não veja
Mas que estão a cair
Sobre um mar longínquo,
Ou sobre um rio
As luzes dos teu olhar!
POSSIBILIDADE
À possibilidade
De um beijo teu,
O amor invoca
Druídas e oráculos,
Madrigais e metáforas,
Encantamentos e assentimentos
De todas as horas felizes
Que caminham no tempo!
Esse amor
Empresta da lua
Luzes para mover-se
Na escuridão da tua ausência.
Por isso, esse afrouxamento
Nas manhãs, quando a lua cheia
Ainda caminha
Arrematando uma noite
Em que eu sonhava contigo!